Ivan Paganotti
Resumo em 5 pontos
1- Nos últimos anos, ficou evidente que é necessário tomar cuidado com a qualidade da informação que circula pelas redes sociais.
2- Apesar de o termo “fake news” (“notícias falsas”, em português) ter se tornado bastante popular desde 2016, a divulgação de mentiras é um fenômeno muito mais antigo e complexo.
3- Muitos sentidos diferentes e até contraditórios parecem ser usados para definir o que é ou não é notícia falsa. Atores políticos se aproveitam da confusão para tentar desacreditar críticas como se fossem “fake”.
4- Notícias falsas são informações comprovadamente falsas que viralizam em rede sociais e se disfarçam de fontes com credibilidade para enganar.
5- Não podemos confundir “fake news” com erros da imprensa tradicional. Esses são problemas diferentes, que demandam soluções distintas também.
Identificar fontes de informação de qualidade é uma das habilidades mais importantes em tempos de tanta desinformação. Separar o joio do trigo é essencial para descartar boatos sem comprovação das informações pertinentes e bem fundamentadas em fatos. Sem essa capacidade, podemos nos preocupar à toa com histórias inventadas ou até mesmo tomar decisões importantes baseadas em informações incompletas ou incorretas.
Nos últimos anos, a internet parece ter sido invadida por “fake news”, termo que importamos do inglês e que pode ser traduzido como “notícias falsas”. Mas o que são as “fake news”? O que há de novo nesse fenômeno, que o diferencia das tradicionais mentiras e manipulações políticas?
Esse termo polêmico possui sentidos tão diferentes que chegam até a se contradizer. Pesquisadores de Singapura encontraram várias definições diferentes em estudos científicos sobre “fake news” nos últimos anos, que incluíam até análises sobre piadas que usavam o formato de telejornais para fazer humor.
Muita gente pode achar que qualquer informação falsa seja “fake news”. Mas, para esse sentido bastante amplo da expressão, parece estranho inventar um termo novo para descrever algo que há muito tempo já cabe em uma palavra só: “mentira”.
Por isso, é necessário prestar um pouco mais de atenção no que há de novo nas “fake news”, para não confundir esse fenômeno recente com seus parentes mais antigos, como os boatos ou o sensacionalismo. Evidentemente, eles apresentam origens comuns e muitas semelhanças, mas as diferenças são inegáveis.
Para isso, vamos voltar para o ano de 2016, quando a expressão “fake news” passou a ser difundida. Foi o ano em que, durante a eleição presidencial nos Estados Unidos, muitos eleitores compartilhavam informações completamente absurdas, tiradas de sites falsos, mas que favoreciam seu candidato ou criticavam opositores.
A imprensa internacional passou a usar o termo “fake news” para denunciar sites que tentavam se disfarçar de conteúdos jornalísticos, mas não seguiam as normas éticas e legais, divulgando informações sem comprovação.
Economistas norte-americanos que pesquisaram a eleição de 2016 identificaram sites desconhecidos que publicavam informações incorretas, mas que, de repente, conquistavam um enorme público vindo de redes sociais ou de ferramentas de pesquisa online. Assim, eles definiram “fake news” como informações comprovadamente falsas que viralizavam online, simulando o formato jornalístico para enganar o público.
Essa definição é muito mais precisa, porque trata de um fenômeno realmente novo: mentira sempre existiu, mas a novidade agora é a capacidade de propagação acelerada por redes sociais digitais. Essas plataformas como Facebook, Twitter e WhatsApp foram criadas há pouco mais de uma década, e parecem ter atingido agora uma massa crítica, sendo tomadas por propagadores de mentiras em escala industrial.
Outra novidade é a simulação de fontes com credibilidade. Depois do formato jornalístico, também tivemos conteúdos simulando declarações de médicos, cientistas e representantes de movimentos sociais. Com isso, impostores tentam se aproveitar da credibilidade dessas categorias para enganar, e fica difícil verificar de onde essas informações vieram depois de serem repassadas milhares de vezes nas redes sociais.
Essa definição bastante precisa também ajuda a entender o que não é fake news. Erros da imprensa ou apelos sensacionalistas não são um problema novo. Para isso já existem soluções, como as leis que punem por calúnia, difamação ou invasão de privacidade. A grande diferença é que, por trás da imprensa, temos instituições e profissionais que podem ser responsabilizados pela informação que circula. As fake news, pelo contrário, não deixam claro quem é seu responsável, e por isso demandam uma solução diferente.
A confusão de fake news com o jornalismo profissional acaba sendo bastante conveniente para políticos que procuram desacreditar críticas e denúncias como se fossem notícias falsas. Assim, tentam fazer com que o público não confie nas investigações ou posicionamentos que circulam pela mídia, ignorando os documentos e testemunhos que os provam. É preciso cautela para não ser enganado, e para isso é importante verificar as fontes das informações que garantem que o que é publicado é realmente verdade.
Dicas práticas
- Para não ser enganado por fake news, preste atenção de onde as informações vieram: é um site em que você confia? O autor está identificado de forma clara, garantindo que alguém se responsabiliza se algo estiver incorreto? As informações e dados citados apresentam fontes que podem ser verificadas? Se a resposta for não, desconfie.
- Se encontrar uma informação incorreta, aponte o erro e recomende correção. Veículos jornalísticos têm canais para contato do público e estão preocupados em apresentar a melhor informação possível. Por isso, publicam correções claras, se necessário. Se for um familiar, amigo ou colega que divulgou a informação falsa, vale alertar, sem ofender publicamente, indicando fontes com correções. Desconfie de quem não admite erros: pode ser um sinal de que não se preocupam com a qualidade dos fatos difundidos.
- Informações verdadeiras, publicadas no passado ou em outros lugares do mundo podem ser repassadas de forma descontextualizada, enganando quem acha que se tratam de fatos recentes e próximos.
Para saber mais
Agência Lupa. Agência de checagem de fatos produzida por equipe de jornalistas profissionais, verificam informações que circulam no debate público, provando quais são verdadeiras e quais são falsas. Também treinam novos checadores a partir de regras internacionais de verificação.
Fátima. Desenvolvido pela agência de checagem Aos Fatos, essa conta automatizada no WhatsApp permite verificar informações e receber notificações com boatos que já foram provados como falsos pelos jornalistas de sua equipe. Além do site acima, o robô também pode ser acessado pelo WhatsApp no número (21) 99747-2441.